A vida inteira tive admiração por você!
Um político super ocupado, sempre viajando muito, mas
que encontrava tempo para seus filhos. Aprendi coisas fundamentais da vida com
você.
Você me ensinou a andar de bicicleta, a minha era uma Hércules, na Praça Nossa
Senhora da Paz, num tempo em que ainda podíamos fazer isso.
Você me incentivou a gostar de ler, comprando os gibis
da época depois da missa de domingo na Igreja Nossa Senhora de Copacabana, na
Praça Hilário de Gouveia. Após o almoço, sentávamos todos para ler um pouco.
Minha imaginação voava solta com o Fantasma, o Super Homem, o Flash Gordon, o Mandrake,
etc. Depois, vieram os clássicos, que li primeiramente através das histórias em
quadrinhos: Vinte mil léguas submarinas, Robson Crusoé, Moby Dick, A ilha do
tesouro, etc
Você me incentivou a gostar de cinema também. Todo
sábado, através de uma 16mm, víamos
filmes variados e séries, claro que em preto e branco durante algum tempo...
Era uma delícia; os amigos e primos vinham e a gente se divertia bastante.
Você me ensinou a dirigir, começando por me colocar no
colo e eu só no volante para adquirir um sentido de direção. Aos poucos, fui
sentando no banco do motorista e arriscando as primeiras tentativas na estrada
do Recreio dos Bandeirantes; naquela época, era só mar, areia e estrada...
nenhuma casa...
Você me incentivou a gostar de
música, tanto clássica quanto popular. A sua discoteca, com obras completas dos
compositores, me atraía e passei boa parte da minha adolescência ouvindo Bach,
Beethoven, Chopin, Mozart, Verdi, Wagner, Tchaikovsky,
etc. Meus primeiros professores de inglês foram Billy Eckstine, Nat King Cole,
Frank Sinatra; tirava as letras e cantava com pronúncia irrepreensível, mas,
muitas vezes, não tinha ideia do que estava dizendo... A música popular
brasileira tinha seu lugar também. Éramos um "conjunto": você
na gaita, mamãe no piano, tia Edy no
violão, eu no acordeom
e Ugo no triângulo.
Aprendi a
comer bem, beber e aproveitar a vida com você! Você sempre trazia umas
"comidinhas" diferentes de uma
delicatesse da cidade e também da
confeitaria Colombo. Suas doses diárias de whisky, antes do jantar,
acompanhadas de queijinhos fortes, patê de foie gras e torradinhas eram um
manjar para mim e meu irmão. Com a desculpa de provar o queijinho, provávamos
também o seu uísque. Então o álcool faz parte da minha vida desde então.
Você fumava
bastante e sempre tinha uns cigarros importados, Lucky Strike, que eu roubei
várias vezes. Comecei a fumar aos 16 anos, Hollywood sem filtro, achando que
vocês não sabiam, mas é claro que faziam vista grossa, porque assim, eu não
fumaria na frente de vocês, coisa que nunca consegui fazer nem depois de adulta
e casada... Como parte essencial daquele tempo, eu era uma menina bem comportada!
Tenho muita
saudade de você, pai. Acho que você ficaria bem contente em ver a família que
formamos, eu e José Luiz. Filhas maravilhosas, independentes (como você me
criou) e bem sucedidas profissionalmente; netos maravilhosos também,
independentes e bem sucedidos tanto na profissão quanto na escola.
Essas
coisas fundamentais que você me ensinou são parte integrante da minha vida e,
volta e meia, quando estou fazendo algumas delas, lembro-me sempre de você.