sábado, 6 de junho de 2009

Nunca sempre


Durante quase 50 anos, exatamente 48 anos, nunca faltou uma palavra. Nunca. Sempre houve troca intensa de palavras. Sempre. O que não quer dizer que não tenhamos nos sentido só, às vezes. Mas só às vezes. Nunca sempre.

Durante o namoro, as palavras eram revestidas de mel. Eram tão doces! Mas juramos ser como pombinhos, era o que ele me falava, a vida inteira. Sempre.

Durante o noivado, morando em cidades distantes, as palavras vinham como era possível, então! Cartas diárias, dois telefonemas por semana (a telefonista fazia o contato e esperávamos, às vezes, duas longas horas!) e um fim de semana por mês (depois de uma viagem de 11 horas de ônibus!). A espera pelas palavras revestiam-nas de alguma coisa. Que não consigo expressar... para explicar, sempre falta uma palavra. Sempre. Mas nunca entre nós. Nunca faltou uma palavra. Nunca.

Durante os 46 anos de casamento, sempre juntos. Sempre. É verdade que atravessamos verdejantes planícies, verdadeiros precipícios, caudalosas quedas d’água, cálidos desertos. Sempre juntos. Sempre. Palavra foi o que nunca faltou. Sempre nunca.

Agora, porém, não há mais palavras. Faltam. Tudo falta. Só existe nada. Cartas, telefonemas, fins de semana. Acima de tudo, palavras. Nada!
Palavras que eram a tradução de carinho, cumplicidade, confiança, ciúmes até. Amor, enfim!

E, depois de quase 50 anos, exatamente 48 anos, falta uma palavra. Sempre falta. Sempre faltará. Sempre.

Um comentário:

  1. Seu texto está "belinho".

    PS: Adoro a sua amizade! Bjos, Ana

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