quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Gostinho de guaco


Meu avô materno era uma figura! Alto, esguio, ereto, olhos azuis profundos, cabelos totalmente brancos. Mostrava ter sido um jovem muito atraente.
A primeira vez que fui a Teófilo Otoni, sua cidade natal, fiquei deslumbrada com a vida que lá se levava. Eu, menina criada em apartamento, no Rio de Janeiro, encontrava-me num sobrado enorme, na Rua das Flores. Era um tradicional sobrado mineiro, com quartos amplos, cozinha enorme, varanda e quintais. Sim, quintais no plural! Eram cinco quintais, um atrás do outro e o último acabava na margem do rio.
Como foi diferente e deliciosa a experiência de comer uma goiaba sentada na árvore e podendo me lambuzar à vontade!
Essa temporada de férias me aproximou de uns primos que pouco via, mas que logo ficaram amigos. Brincávamos o dia todo, ora na casa de meu avô, ora na casa deles, onde também havia árvores para subirmos e explorarmos os frutos.
À noite, era hora das estórias de cavaleiros e guerreiros, que meu avô contava com detalhes, praticamente atuando, como se estivesse no teatro. E eu viajava por aqueles lugares imaginários como se, na realidade, lá estivesse!
Meu avô era maçom e isso fazia com que o víssemos de um modo misterioso. Meus primos e eu fizemos o possível para conseguir saber alguma coisa que fosse a respeito da maçonaria. Mas que nada! Meu avô enrolava e dizia que não podia falar porque mulher não guardava segredo; por isso mesmo não havia mulheres na maçonaria. Tentamos convencê-lo de que, se fosse uma coisa boa, não haveria motivo para ser guardada em segredo. Nada! Desviava, mudava de assunto e... ficamos sem saber o que era e o que ele lá fazia.
Foi uma pessoa muito importante para a cidade, pois foi ele quem conseguiu colocar luz elétrica lá; e era muito querido por causa disso.
Anos depois, ele e minha avó mudaram-se para o Rio e, antes de se instalarem definitivamente, passaram uma temporada lá em casa. Casa de mineiro é assim mesmo; sempre há alguém hospedado ou que chega de repente para almoçar ou jantar.
Como era divertido escutar minha avó chamar o marido de “seu Chico”!
Fiquei sabendo que ela nunca tomara conhecimento de quanto ele ganhava, se havia contas a pagar, se havia dinheiro no banco... nada! Era só pedir “Seu Chico, dinheiro para o verdureiro. Seu Chico, dinheiro para o leiteiro.” e por aí afora. Não é de admirar que tenha morrido com 96 anos e ainda com alguns cabelos pretos. Pudera! Que preocupação tivera, a não ser parir e criar os filhos?
Ainda trago comigo o cheiro do cigarro de palha de meu avô. Era um ritual minucioso. Cortava o fumo com o canivete, abria a folha de palha, colocava o fumo e ia enrolando meticulosamente. Depois, era outro ritual para conseguir acender, pois acendia e apagava, acendia e apagava... até que ficava aceso!
Enquanto morou lá em casa, ia à cidade uma vez por semana para comprar os apetrechos para seu cigarrinho. E quando voltava era uma delícia! Sempre trazia umas balas de guaco, que eu adorava e que ia economizando para que durassem até a outra semana.
Que saudade daquele gostinho de guaco!

domingo, 27 de dezembro de 2009

Escutar ou não escutar?


Minha avó paterna era tão vaidosa que nunca deixou nenhum neto chamá-la de vó; era a Dinda.
Dinda ficou viúva muito cedo, aí pelos seus 30 e poucos anos, com 3 filhos e já grávida novamente.
Meu avô, um oficial de marinha, havia morado na Inglaterra com a família, por uns anos, acompanhando a construção de um navio. Estava trabalhando na base naval do Ladário quando faleceu. Seu melhor amigo, num acesso de loucura – coisa que só foi esclarecida mais tarde - deu um tiro no meu avô. Saiu do navio correndo. Foi para sua casa. Suicidou-se, incendiando a casa.
No meu imaginário de menina, essa história ganhava matizes de romance, de filme. O orgulho que meu avô despertou em mim, orgulho de herói, sempre me acompanhou.
Meus avós viveram uma curta, mas muito intensa, história de amor. Ele viajava sempre e, naquela época, o único meio de comunicação era a carta. Essa ia e vinha, quase que diariamente, onde quer que ele estivesse. Quando minha avó morreu, já havia pedido para minha prima que a enterrassem com as 2000 cartas que guardava em uma caixa linda que a gente não podia tocar; só olhar!
A caçula, que nasceu alguns meses depois da morte de meu avô, tinha o meu nome. Dizem que era muito inteligente, à frente de seu tempo. Estudava odontologia. E, destino cruel, se apaixonou por um homem casado. Não se concebia isso, então. Sem nenhuma alternativa honrosa, sem conseguirem romper o relacionamento e sem que ninguém soubesse, decidiram fazer o que para eles era a única saída. No dia de sua formatura, após a festa, engoliu um comprimido de cianureto, enquanto ele fazia o mesmo em sua casa. A Dinda nunca soube disso e, muito menos, da carta de despedida pedindo desculpas que a filha havia deixado para a mãe.
Como gostaria de ter conhecido minha tia e xará!!! Durante muitos anos de minha adolescência, cheguei a ter raiva dela ter se matado, sem ter me dado a chance de conhecê-la. Já mulher, consegui entender e até mesmo partilhar seu drama.
Muitos anos depois, meu pai trouxe a Dinda para ficar uns tempos com a gente no Rio. Dinda tinha todo um ritual para se arrumar. Ela mesma fazia um creme, talvez o que se pudesse chamar de base. Era uma receita toda misteriosa que ela só dividiu com minha mãe. Elas iam para o fogão e ficavam horas mexendo um panelão, onde se via um líquido grosso bem branco. Depois de frio, era hora de encher os vidrinhos. Curiosa, como sempre fui, fiquei sabendo que não podiam ser vidros grandes, pois o creme precisava ser logo usado para não se solidificar rapidamente. Então, antes de usar, tinham que chacoalhar bem o vidro para que o creme branco depositado no fundo se misturasse àquela água turva acima dele.
Dinda ficava um tempão em frente ao espelho da pia do banheiro. De um lado, sua caixa mágica de papelão, onde eu encontrava milhares de novidades. Do outro lado, um cinzeiro com seu inseparável cigarro. Para meu pai parar de aborrecê-la com o cigarro, e as manchas amarelas nos dedos, ela desenvolveu um truque: segurava o cigarro com um grampo de cabelo e, assim, não manchava mais os dedos. Fumou até morrer sem qualquer problema.
Mas, voltemos ao espelho da pia. Chacoalhava o vidrinho do creme branco e pegava um chumaço de algodão, que embebia no creme. Ia espalhando sobre o rosto enrugado com uma precisão matemática. A pele ficava bem clarinha, toda por igual!
Aí, passava para os cabelos, que eram finos, já escassos e totalmente brancos. Desbastava-os, para dar mais volume, e ia ajeitando e prendendo com uns pentinhos pequenos e curvos também brancos – para não aparecer, é claro! Um batom bem claro finalizava a sessão.
Que saudade de tudo isso! Como era bom ficar lá admirando aquela pessoinha – ela era tipo mignon – tão sofrida e tão meiga ao mesmo tempo. Ela tivera uma vida bem dura depois que meu avô morreu. Criara os quatro filhos comandando uma pensão, por onde passaram ilustres figuras do cenário político do país.
Dinda era surda e usava um aparelho complicado. Não havia esses pequeninos que quase nem se vê. O dela tomava conta da orelha, e dele descia um fio que se ligava a um estojo – parecendo um celular grosso – que ela prendia na frente do vestido.
Era muito engraçado vê-la ao telefone. A parte que ficaria no ouvido ficava em frente ao estojo e o bocal ficava para cima, onde ela falava!
Às vezes não respondia, quando a chamávamos. Consegui descobrir que fazia isso de propósito. Quando estava cansada do barulho – havia muita estática – simplesmente desligava o aparelho, e ficava em paz. Já no fim da vida, motivada por meu pai, tentou uma operação que lhe devolveu a audição. Glória! Morreu escutando!
Fico a pensar se não teria preferido continuar com o aparelho, para poder desligá-lo de vez em quando...

sábado, 28 de novembro de 2009

Neurolingística







Sonhar alto, sonhar grande,
primeiro passo
para que a vida ande.

Pensar, sentir, agir:
sequência lógica
para sair daqui.

Perdas e ganhos,
importância e consequências,
sempre, por onde ando.

Pontos fortes e fracos,
com certeza aparecem
em tudo que faço.

sábado, 14 de novembro de 2009

China 3






Beijing ou Pequim,
antigo e atual
vão convivendo
com harmonia!

Grande muralha,
Cidade proibida,
Cubo d’água e
Ninho(de)pássaro!

China 2






Hotel em Guangzhou
uma grata surpresa.
Shoppings, fábricas
supermodernos!

Feira de Housewares
é a maior do mundo.
Templos, mercados,
tradição viva!

China 1







Cosmopolita,
surpreendente Hong Kong.
Ruas e metrôs
abarrotados!

Prédios e Buda
altos e imponentes.
Compras, barganhas
indescritíveis!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Quando











Meu tempo é quando.
Eu sempre caminhando,
desafios passando.

Não me atrai o sempre.
Estático, presente,
repousa, não ousa.

Quanto ao nunca,
sei que não muda,
trava, trunca.

Quando é movimento,
é ocasião, é o momento
acontecendo.

Instabilidade,
habilidade
para se agarrar o agora.

Não há dúvida nenhuma,
nem certeza alguma.
Meu tempo é quando.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Revelação




Depois de tantos anos, deixam cair as máscaras. Revelam-se!

domingo, 4 de outubro de 2009

Ilusão




Passou a vida procurando o amor perfeito. Morreu só!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Caso



Afinal, fim do caso;ocaso do caso que começou ao acaso.

Oscilação






E de repente vem a maré.
Vem e vai,
vem e vai
E com ela, a dor.
Vem e vai,
vem e vai.
E aí vem o prazer.
Vem e vai,
vem e vai.
E todas as outras coisas.
Vêm e vão,
vêm e vão.
E, afinal, vem a morte.
Vem e não vai mais.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Fera na selva







Revejo você!
Reencontro inesperado,
mas, quem sabe, antes esperado.
Realidade transcendente.
Somos levados pelo momento.
Momento intenso,
pontilhado de saudade.
Esperança talvez,
esperança de uma nova vida,
harmoniosa e plena.

sábado, 19 de setembro de 2009

Primeiro amor






Primeiro amor,
primeira dor!
Ilusão, desilusão,
paixão, ciúmes,
Tragédia!
Primeiro amor,
última ilusão!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Enigma

Vida vivida,
Lida!
Morte?
Forte corte!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Gift Fair





Mulheres ansiosas
comprando sem parar.
Desejos satisfeitos
poucos reais para pagar!

Pacientes lojistas
mostrando sem parar.
Objetivos atingidos
muitos reais para contar!

domingo, 13 de setembro de 2009

Sarau

Sarau irado, tudo de todos.
Formatura? Sim! E diabruras!
Música, poesia, leituras.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Para uma amiga










Teu coração generoso
nos abrigava,
Todas nós.
Teus conselhos pertinentes
nos dirigiam,
Todas nós.
Tuas palavras carinhosas
nos confortavam,
Todas nós.
Tua alegria autêntica
nos contagiava,
Todas nós.
Tua fortaleza constante
nos inspirava,
Todas nós.
Vais fazer muita falta, amiga,
nem imaginas quanta!
Sabemos que estarás enfeitando
tua nova morada,
tão bela flor que és!
Amaryllis.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Futilidade


Futilidade
Idade
Fútil

domingo, 6 de setembro de 2009

Ponto central

O ponto
central da vida
está entre o
ômega
e o
alfa

sábado, 5 de setembro de 2009

Realidade



Realidade
Real
Idade

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Esperança


Esperança
Espera
És!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Para Belinha










Será que ela intuiu
a palavra que faltava?
Sei que certamente viu
quão nervoso eu estava.

Por bem mais que toda a vida,
esperar foi meu viver.
Foi de fato minha sina
e me fez sobreviver.

Esperaria bem mais,
uns cinquenta anos mais
não fosse tão curta vida.

Mas sei que ficou contente
ao me ver, sorridente,
perceber a palavra falta.

domingo, 23 de agosto de 2009

Confissão


Segundo Freud, a palavra cura, e é ela que nos faz humanos. É por isso que escrevo. Através da palavra, consigo me distanciar do que estou vivenciando e isso me torna capaz de dimensionar meus sentimentos.
Ouvi dizer que escrever pode resultar até em desdobramentos psicossomáticos, como por exemplo, o fortalecimento do sistema imunológico. De fato, sinto que me equilibro e me harmonizo através da escrita. E o registro do que estou sentindo é responsável pela organização interna do meu caos.
Esse contato comigo mesma não deixa de ser um desabafo. É também um processo difícil, pois “quem tenta, sabe. Perigo de mexer no que está oculto – e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar,” diz Clarice Lispector.
Depois de escrever, no entanto, percebo que meus pensamentos e sentimentos ficam mais leves. Com a viuvez, fiquei com as emoções à flor da pele; porém, quando escrevo não sinto necessidade de ficar extravasando toda hora. É como se fosse descarregando meus sentimentos aos poucos. Não deixa de ser um caminho de autoconhecimento, de conquista de bem-estar, qualidade de vida e saúde, pode acreditar!
Tolstoi disse que “o segredo da felicidade não é fazer sempre o que se quer, mas querer sempre o que se faz.” E agora só quereria ser o que tivesse sido e não fui. Por isso, quero escrever sempre e cada vez mais!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Writing is



Working out the chaos
R
ecording the chaos
I
lluminating the chaos
T
aming the chaos
E
ncoding the chaos

Thinking is





Tracing ideas
Highlighting ideas
Intending ideas
Nourishing ideas
Knitting ideas

Feeling is






Facing emotions
Envisaging emotions
Enwrapping emotions
Living up to emotions

Reading is


Romancing words
Embracing words
Admiring words
Diving into words

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Opostos










Alegria, alegria.
Tua rima não é poesia.

Alegria, alegria.
Minha alma quer cantar,
quer também dançar.

Alegria, alegria.
sou capaz de percebê-la,
mas não tenho versos para descrevê-la.

Saudade, melancolia.
Essas rimam com poesia.

Saudade. melancolia.
Não quero cantar nem dançar,
mas, com certeza, me transformar.

Saudade, melancolia.
Nos versos, os sentimentos e sua energia,
vestidos de pura poesia.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Canto em tom maior












Meu canto inicial era visceral.
Brotava de um canto escuro da minha mente,
escuro e triste.
Era um canto desafinado, sem ritmo,
harmonia pesada e complexa.
Um canto que estava engasgado,
que precisava se fazer presente,
gritar, colocar para fora
toda aquela melancolia e solidão.
Em tom menor!
Meu canto não me encantava,
nem a ninguém, suponho.
Meu canto cansado que se cale!

Meu canto vem se modulando,
mostrando uma harmonia leve e simples.
Vem se afinando aos poucos.
Parece que flui com um ritmo suave.
Quero meu canto soante, cantante
eue me encante e a quem o ouça.
Em tom maior!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Escrever é

Escrever é apaziguar o caos.
Escrever é eternizar o caos.
Escrever é idealizar o caos.
Escrever é organizar o caos.
Escrever é usufruir o caos.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sentir é


Sentir é antever a emoção.
Sentir é expressar a emoção.
Sentir é interagir com a emoção.
Sentir é ocasionar a emoção.
Sentir é ultimar a emoção.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Pensar é



Pensar é agasalhar as idéias.
Pensar é elevar as idéias.
Pensar é imitar as idéias.
Pensar é otimizar as idéias.
Pensar é ungir as idéias.



sábado, 1 de agosto de 2009

Ler é




Ler é abraçar as palavras.
Ler é envolver-se com as palavras.
Ler é internalizar as palavras.
Ler é oxigenar as palavras.
Ler é ultrapassar as palavras.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Masculino & Feminino


Masculino e feminino não são destino; são construidos psíquica, emocional e culturalmente.
Assim que, hoje em dia, vemos mulheres transformadas e em transformação.
Homens amedrontados e em constante busca.
Mulheres liberadas e financeiramente independentes.
Homens desorientados e emocionalmente imaturos.
A mulher se descobriu; descobriu seus desejos, sua feminilidade e liberdade.
É uma nova mulher!
O homem precisa se reencontrar; reecontrar seu lugar perdido, sua masculinidade e vigor.
Será um novo homem!
Para uma nova mulher, um novo homem.
Só assim poderão se entender, sentirem-se mais satisfeitos e felizes.
Será possível?
Só o tempo dirá!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Semelhança








O nada sempre foi nada.

Nunca foi tudo.
O vazio já foi pleno.
Vazio não é ser sem.
É estar sem.
Sem o quê?
Sem alguma coisa
que já foi parte de sua vida.
Sem alguém com quem já compartilhou
alguns momentos, horas, dias semanas, meses,
até anos.
Vazio é se sentir como
um eco sem som,
uma canção sem melodia,
uma melodia sem ritmo,
um lápis sem ponta,
uma caneta sem tinta,
uma carteira sem dinheiro,
um veículo sem combustível.
Que utilidade essas coisas têm
se estão vazias?
Só entende o vazio
quem já se sentiu pleno.
O vazio tem o valor e a semelhança do pleno.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Transformação







Saudade se transformando em esperança.
Esperança de poder fazer acontecer
o que não foi.
Esperança de poder ver
o que não foi visto.
Esperança de poder ouvir
o que não foi ouvido.
Esperança de poder dizer
o que não foi dito.

Esperança, quanta esperança!
E um desejo imenso de
transformar essas esperança em certezas!

domingo, 12 de julho de 2009

Nós dois











O tempo leva tudo.
O tempo também trás tudo de volta,
Na memória, na saudade.
Vamos fazer de conta
Que estamos em nossa ilha.
Aqueça-me ao luar,
Prove-me com seus beijos,
Toque-me até que eu trema.
Mostre-me como amá-lo,
Ensine-me como agradá-lo,
Perca-se dentro de mim.
E que nunca se acabe,
Que dure para sempre,
Como se não houvesse amanhã.
Aprendendo um com o outro,
Explorando um ao outro,
Envolva-me com seus braços.
Deixe-me saber que você me ama,
Você foi feito para amar-me,
Eu fui feita para amá-lo.

sábado, 11 de julho de 2009

Outono


Nunca pensei em envelhecer! É claro que, consciente ou inconscientemente, sabia que isso ia acontecer um dia. Mas esse dia estava bem longe! Talvez porque a imagem de uma pessoa velha, para mim, era bem diferente do que se vê hoje em dia.
Velhos, aposentados ou não, eram pessoas que não estavam em atividade, que estavam sempre sentadas, jogando, tricotando ou assistindo a TV. Não iam à academia, não nadavam, não entravam na Internet. Não usavam agasalhos esportivos ou tênis. Teatro, cinema, um chopinho com amigos, nem pensar!
Há algum tempo, quando fui ao cinema com meu neto, ele me mostrou todo orgulhoso:
__ Vó, você já pode pagar meia entrada! Que irado!
Eu, meio desconfiada, meio embaraçada, confirmei com a moça da bilheteria. Era verdade!
Comecei a perceber, então, todas as vantagens que a idade nos trazia agora; ciência e tecnologia eram responsáveis por uma vida mais longa e de melhor qualidade. A princípio, não consegui usar todos os benefícios; ficava meio sem graça, pois todos olhavam atravessado quando passava na frente em aeroportos, bancos e cinemas. Lembrava, também, de como ficava irritada, quando estava quase chegando a minha vez e uma pessoa mais velha se aproximava e passava na minha frente!
Depois de algum tempo, resolvi que era meu direito legítimo, e comecei o treino. Sim, era um treino, pois não conseguia ainda me comportar com naturalidade. Chegava como quem não quer nada, sem olhar diretamente para ninguém. Com o passar do tempo, realizei que já estava agindo naturalmente!
Hoje, não sinto a menor vergonha. Assumi a idade e com ela, tudo a que tenho direito! Afinal de contas, já trabalhei muito, já dei a minha contribuição e agora é aproveitar enquanto é tempo! Só posso ter orgulho de ter sobrevivido até aqui, com saúde e disposição, com objetivos e sonhos que estão sendo retomados a cada oportunidade. Sou uma feliz “envelhecente”!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Mistério...Problema...







Mistério!
Entender?
Não. Não dá.
Acreditar?
Talvez. Com fé.
Aceitar?
Sim.
Problema!
Equacionar?
Antes de qualquer coisa.
Desmembrar?
Uma boa idéia.
Solucionar?
Passo final.
Mistério não é problema.
Problema não é mistério.

Distinção essencial.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Dois...Um!


Dois seres, dois corpos.
Um e uma.
Duas metades?
Não! Dois inteiros!
Mãos acarinhando,
corpos explorados,
recônditos revelados
numa união intensa.
Dois inteiros
fundidos
Num só ser,
inteiro!

R.S.V.P.



Lê-se para compreender, ou compreende-se para ler?
Pensa-se para existir, ou existe-se para pensar?
Sente-se para entender, ou entende-se para sentir?
Escreve-se para se revelar, ou revela-se para escrever?
Vive-se para sofrer, ou sofre-se para viver?
Encontra-se para amar, ou ama-se para se encontrar?

sábado, 20 de junho de 2009

Quisera ser







O olhar que compreende
e não o que recrimina.
O ouvido que escuta
e não o que ignora.
A mão que acaricia
e não a que bate.
O braço que apóia
e não o que empurra.
O ombro que consola
e não o que despreza.
O corpo que acolhe
e não o que repudia.
A palavra que incentiva
e não a que fere.

sábado, 13 de junho de 2009

Quando








Meu tempo é quando.
Eu sempre caminhando
à procura de novos desafios.

Não me atrai o sempre.
Estático, presente.
Repousa, não ousa.

Quanto ao nunca,
sei que não muda,
nada de novo trás.

O quando é movimento,
é ocasião, é o momento
de fazer acontecer.

O quando é instabilidade,
fundamental qualidade
para se agarrar o agora.

Não há dúvida nenhuma,
nem certeza alguma
mas, meu tempo é quando.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Minha alma tem pressa















Minha alma tem pressa
de reencontrar o caminho
de não se perder nos desvios.

Minha alma tem pressa
de seguir adiante
de não olhar para trás.

Minha alma tem pressa
de retomar os sonhos
de não deixá-los ao léu.

Minha alma tem pressa
de conhecer o desconhecido
de viver o não vivido.

Minha alma tem pressa,
pois não tenho mais tanto tempo,
mas tantas coisas ainda por fazer!

sábado, 6 de junho de 2009

Nunca sempre


Durante quase 50 anos, exatamente 48 anos, nunca faltou uma palavra. Nunca. Sempre houve troca intensa de palavras. Sempre. O que não quer dizer que não tenhamos nos sentido só, às vezes. Mas só às vezes. Nunca sempre.

Durante o namoro, as palavras eram revestidas de mel. Eram tão doces! Mas juramos ser como pombinhos, era o que ele me falava, a vida inteira. Sempre.

Durante o noivado, morando em cidades distantes, as palavras vinham como era possível, então! Cartas diárias, dois telefonemas por semana (a telefonista fazia o contato e esperávamos, às vezes, duas longas horas!) e um fim de semana por mês (depois de uma viagem de 11 horas de ônibus!). A espera pelas palavras revestiam-nas de alguma coisa. Que não consigo expressar... para explicar, sempre falta uma palavra. Sempre. Mas nunca entre nós. Nunca faltou uma palavra. Nunca.

Durante os 46 anos de casamento, sempre juntos. Sempre. É verdade que atravessamos verdejantes planícies, verdadeiros precipícios, caudalosas quedas d’água, cálidos desertos. Sempre juntos. Sempre. Palavra foi o que nunca faltou. Sempre nunca.

Agora, porém, não há mais palavras. Faltam. Tudo falta. Só existe nada. Cartas, telefonemas, fins de semana. Acima de tudo, palavras. Nada!
Palavras que eram a tradução de carinho, cumplicidade, confiança, ciúmes até. Amor, enfim!

E, depois de quase 50 anos, exatamente 48 anos, falta uma palavra. Sempre falta. Sempre faltará. Sempre.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Enlace


Eles se abraçam.
Ele abre seus braços em volta de seu corpo.
Ela se aninha entre seus braços.
Ela abre seus braços em volta de seu pescoço.
Ele descansa sua cabeça sobre seus braços.
Seus corpos se fundem transmitindo um calor inebriante.
E eles, perdidos no abraço.
No abraço que eterniza.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

RETO? CERTO?


O caminho reto é o certo?
Existe caminho inteiramente reto?
Existe caminho inteiramente certo?
Os caminhos são sinuosos.
As linhas são sinuosas.
Essa sinuosidade é que conta.
Essa diversidade é que encanta.
Caminhos longos e curtos, curvas e desvios .
Linhas grossas e finas, pontilhadas e quebradas.
Nada sempre é.
Às vezes é.
Às vezes não é.
Related Posts with Thumbnails