Meu avô materno era uma figura! Alto, esguio, ereto, olhos azuis profundos, cabelos totalmente brancos. Mostrava ter sido um jovem muito atraente.
A primeira vez que fui a Teófilo Otoni, sua cidade natal, fiquei deslumbrada com a vida que lá se levava. Eu, menina criada em apartamento, no Rio de Janeiro, encontrava-me num sobrado enorme, na Rua das Flores. Era um tradicional sobrado mineiro, com quartos amplos, cozinha enorme, varanda e quintais. Sim, quintais no plural! Eram cinco quintais, um atrás do outro e o último acabava na margem do rio.
Como foi diferente e deliciosa a experiência de comer uma goiaba sentada na árvore e podendo me lambuzar à vontade!
Essa temporada de férias me aproximou de uns primos que pouco via, mas que logo ficaram amigos. Brincávamos o dia todo, ora na casa de meu avô, ora na casa deles, onde também havia árvores para subirmos e explorarmos os frutos.
À noite, era hora das estórias de cavaleiros e guerreiros, que meu avô contava com detalhes, praticamente atuando, como se estivesse no teatro. E eu viajava por aqueles lugares imaginários como se, na realidade, lá estivesse!
Meu avô era maçom e isso fazia com que o víssemos de um modo misterioso. Meus primos e eu fizemos o possível para conseguir saber alguma coisa que fosse a respeito da maçonaria. Mas que nada! Meu avô enrolava e dizia que não podia falar porque mulher não guardava segredo; por isso mesmo não havia mulheres na maçonaria. Tentamos convencê-lo de que, se fosse uma coisa boa, não haveria motivo para ser guardada em segredo. Nada! Desviava, mudava de assunto e... ficamos sem saber o que era e o que ele lá fazia.
Foi uma pessoa muito importante para a cidade, pois foi ele quem conseguiu colocar luz elétrica lá; e era muito querido por causa disso.
Anos depois, ele e minha avó mudaram-se para o Rio e, antes de se instalarem definitivamente, passaram uma temporada lá em casa. Casa de mineiro é assim mesmo; sempre há alguém hospedado ou que chega de repente para almoçar ou jantar.
Como era divertido escutar minha avó chamar o marido de “seu Chico”!
Fiquei sabendo que ela nunca tomara conhecimento de quanto ele ganhava, se havia contas a pagar, se havia dinheiro no banco... nada! Era só pedir “Seu Chico, dinheiro para o verdureiro. Seu Chico, dinheiro para o leiteiro.” e por aí afora. Não é de admirar que tenha morrido com 96 anos e ainda com alguns cabelos pretos. Pudera! Que preocupação tivera, a não ser parir e criar os filhos?
A primeira vez que fui a Teófilo Otoni, sua cidade natal, fiquei deslumbrada com a vida que lá se levava. Eu, menina criada em apartamento, no Rio de Janeiro, encontrava-me num sobrado enorme, na Rua das Flores. Era um tradicional sobrado mineiro, com quartos amplos, cozinha enorme, varanda e quintais. Sim, quintais no plural! Eram cinco quintais, um atrás do outro e o último acabava na margem do rio.
Como foi diferente e deliciosa a experiência de comer uma goiaba sentada na árvore e podendo me lambuzar à vontade!
Essa temporada de férias me aproximou de uns primos que pouco via, mas que logo ficaram amigos. Brincávamos o dia todo, ora na casa de meu avô, ora na casa deles, onde também havia árvores para subirmos e explorarmos os frutos.
À noite, era hora das estórias de cavaleiros e guerreiros, que meu avô contava com detalhes, praticamente atuando, como se estivesse no teatro. E eu viajava por aqueles lugares imaginários como se, na realidade, lá estivesse!
Meu avô era maçom e isso fazia com que o víssemos de um modo misterioso. Meus primos e eu fizemos o possível para conseguir saber alguma coisa que fosse a respeito da maçonaria. Mas que nada! Meu avô enrolava e dizia que não podia falar porque mulher não guardava segredo; por isso mesmo não havia mulheres na maçonaria. Tentamos convencê-lo de que, se fosse uma coisa boa, não haveria motivo para ser guardada em segredo. Nada! Desviava, mudava de assunto e... ficamos sem saber o que era e o que ele lá fazia.
Foi uma pessoa muito importante para a cidade, pois foi ele quem conseguiu colocar luz elétrica lá; e era muito querido por causa disso.
Anos depois, ele e minha avó mudaram-se para o Rio e, antes de se instalarem definitivamente, passaram uma temporada lá em casa. Casa de mineiro é assim mesmo; sempre há alguém hospedado ou que chega de repente para almoçar ou jantar.
Como era divertido escutar minha avó chamar o marido de “seu Chico”!
Fiquei sabendo que ela nunca tomara conhecimento de quanto ele ganhava, se havia contas a pagar, se havia dinheiro no banco... nada! Era só pedir “Seu Chico, dinheiro para o verdureiro. Seu Chico, dinheiro para o leiteiro.” e por aí afora. Não é de admirar que tenha morrido com 96 anos e ainda com alguns cabelos pretos. Pudera! Que preocupação tivera, a não ser parir e criar os filhos?
Ainda trago comigo o cheiro do cigarro de palha de meu avô. Era um ritual minucioso. Cortava o fumo com o canivete, abria a folha de palha, colocava o fumo e ia enrolando meticulosamente. Depois, era outro ritual para conseguir acender, pois acendia e apagava, acendia e apagava... até que ficava aceso!
Enquanto morou lá em casa, ia à cidade uma vez por semana para comprar os apetrechos para seu cigarrinho. E quando voltava era uma delícia! Sempre trazia umas balas de guaco, que eu adorava e que ia economizando para que durassem até a outra semana.
Que saudade daquele gostinho de guaco!